Venda de ações da Copel: modernidade ou mau negócio para os paranaenses?

Logo após as eleições de 2022, a Assembleia Legislativa aprovou, em três dias, a venda de ações da Copel, maior estatal paranaense. A iniciativa e a velocidade com que ela foi aprovada, surpreendeu por se tratar de um assunto que era quase um tabu na política do Estado. O Bem Paraná inaugura hoje a publicação de uma série de artigos que vai refletir as diferentes posições sobre esse e outros assuntos polêmicos que estão no centro do debate político do Estado, a partir de opiniões de deputados da base do governo e da oposição. O primeiro embate coloca frente a frente o líder do governo na Assembleia Legislativa, Hussein Bakri e da oposição, Requião Filho (PT)

Por uma Copel mais moderna e eficiente
Hussein Bakri

Um Estado moderno, inovador e eficiente. É esse o Paraná que vem sendo construído nos últimos quatro anos pelo Governo Ratinho Junior. Como ele sempre ressalta em discursos e entrevistas, as discussões em prol dos paranaenses são sempre pautadas por metodologia e não por ideologia. E é exatamente dessa forma que está sendo conduzida a transformação da Copel em corporação, com foco no desenvolvimento do Estado e na melhoria da qualidade do serviço.
Antes de mais nada, é preciso destacar que o Estado do Paraná permanecerá como maior acionista da Copel e com uma participação societária muito relevante, de no mínimo 15%. Mais do que isso, será detentor de uma ação de classe especial (chamada golden share), com poder de veto a fim de garantir que a companhia invista na distribuição no Paraná, sob pena de o Governo não aprovar o plano anual da empresa.
Basta olhar para além das nossas divisas a fim de perceber que esse processo é, mais do que natural, necessário. Somente em Minas Gerais e Santa Catarina, a empresa local do setor elétrico ainda está nas mãos do Estado. E esse controle estatal vem dificultando a expansão e a competitividade da Copel na concorrência com o mercado privado.
Sem as amarras do poder público, a companhia vai ganhar agilidade na tomada de decisões, nos processos de compras e na execução das obras, além de poder desenvolver o quadro de funcionários ao atrair talentos sem precisar de concurso. De outra parte, o Estado continuará recebendo dividendos e usufruindo do crescimento da empresa, podendo direcionar seus esforços e recursos para áreas estratégicas, como saúde, educação, segurança, etc.
Mesmo com essas mudanças, a Copel não deixará de ser uma concessionária de serviço público e continuará sujeita às regras de tarifa, investimentos e resultados determinadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ou seja, os consumidores paranaenses seguirão recebendo serviços de uma empresa que é referência nacional no setor, com ainda mais qualidade e eficiência. Inclusive, programas como Energia Solidária e Tarifa Rural Noturna permanecerão inalterados, uma vez que os custos são cobertos pelo Governo do Estado, sendo a Copel apenas quem os operacionaliza.
Um outro fator importante para a alteração na gestão da empresa é que estão em jogo algumas das suas maiores usinas: Foz do Areia, Caxias e Segredo. Responsáveis por 60% da geração de energia, as três terão os contratos de concessão com o Governo Federal vencendo no curto e médio prazo e, para que o Estado do Paraná tenha condições de renová-los, é preciso haver caixa na companhia.
Tudo isso posto, é preciso olhar o debate sob o ponto de vista prático, sem viés ideológico. Num setor quase que integralmente privado como o elétrico, a Copel precisa passar por essa alteração para poder fazer frente às demais concorrentes e se manter como uma empresa eficiente, de referência e motivo de orgulho para o Paraná e os paranaenses.
Hussein Bakri é deputado estadual pelo PSD e Líder do Governo a Assembleia .

A Copel é do povo do Paraná
Requião Filho

No apagar das luzes em 2022, o Governo do Paraná conseguiu convencer sua base a dar o pontapé na venda da Copel, uma das maiores empresas de energia do país, em apenas três dias. Uma votação controversa e totalmente atropelada. Recorremos e o próprio Tribunal de Contas da União reconheceu falhas no processo. Sem autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, essa tentativa de privatizar foi inválida e, o que nos enche de esperança, é que essa negociata ainda pode ser revertida.
Porém, estamos diante de uma gestão estadual que não está preocupada com as pessoas, mas em agradar acionistas e o mercado financeiro, de forma que o máximo que conseguirão é deixar o Paraná no escuro, aumentando tarifas e prestigiando um pequeno grupo econômico.
O governo Ratinho tenta dar ares de modernidade a uma prática antiga, privatiza a Copel através do mercado de ações, triturando a empresa em diversos acionistas, mas na prática é a venda da empresa ao mercado privado. Vive da ilusão de um Paraná que, para alcançar todo progresso prometido nas propagandas, não se importa de cobrar mais e mais impostos, tarifas de energia cada vez mais altas e sem compromisso ou garantia de retorno em investimentos.

Eles podem dizer que é só uma operação financeira e que ainda têm poder de veto, ou que a Copel ainda seria nossa. Mas, na verdade, seria o primeiro caso de que quem paga não leva. Visionários ou ilusionistas?
Você já imaginou comprar algo e não ser seu? Se um Estado deixa de ter maioria de ações de sua empresa e entes privados passam a ter, sua empresa estaria mais próxima de uma estatal ou de uma privada? A qual interesse serviria?
Vendem a preço de banana, dinheiro fácil para um governo que tenta levantar fundos em um curto espaço de tempo pós-eleitoral. A troco de quê? O valor arrecadado com a venda das ações entraria nos caixas da empresa em três, quatro anos, em vez disso, entregam nossa energia para sempre ao capital privado em troca de receber em apenas um.
As pessoas precisam entender que uma empresa estatal de energia é primordial para o desenvolvimento do Estado. Começa pela nossa conta, cada vez mais cara, afinal a política atual pró-acionista garante o preço mais elevado autorizado pela ANEEL, esse detalhe faz com que a sua luz fique cada vez maior enquanto também enche o bolso de poucos acionistas abutres.

Energia mais cara significa produção e produtos mais caros. A população acaba pagando duas vezes, em casa e no comércio, aumentando o custo de vida de cada um.
É função do Estado investir em novas tecnologias, sustentáveis. Sem a garantia de ação da empresa a prioridade será sempre o lucro, como qualquer empresa que se baseia em investidor funciona. Infelizmente o que não entra na cabeça do governador é que estatal precisa garantir investimento e desenvolvimento, precisa sim lucrar, mas usar o dinheiro para retornar para quem já paga muito imposto e não para aqueles que especulam em fundos de investimento.
O presidente da Copel, ano passado, afirmou à imprensa que a prioridade para o Governo era essa: A empresa, o mercado, os acionistas e, por último, o povo. Já nós, sugerimos trocar parte do lucro pelo desconto na luz das pessoas, garantindo preço justo e desenvolvimento do Paraná. E aí, de que lado você está?
Requião Filho é deputado e líder da oposição na Alep.